Segurança energética na Península Ibérica:
o papel estratégico do armazenamento sustentável
Um novo mega-apagão na Península Ibérica, semelhante ao de Abril de 2025, é improvável, mas não impossível. Fragilidades técnicas (rede menos estável com renováveis), económicas e políticas mantêm o sistema eléctrico vulnerável. A boa notícia: investimentos maciços em armazenamento de energia – especialmente em baterias de fluxo de ferro, seguras, duráveis e de baixo custo – prometem reforçar a estabilidade da rede e mitigar este risco.
O apagão de 2025 expôs a fragilidade da rede: uma subida de tensão causou desligamentos em cascata, deixando Portugal e Espanha às escuras. Hoje, com ainda mais eólicas e solares, aumentam as oscilações de produção e diminuem as reservas rotativas (inércia), dificultando o controlo do sistema. A Península, isolada por fracas interligações europeias, depende de si própria para equilibrar oferta e procura. Entretanto, o fecho das centrais nucleares espanholas e a falta de incentivos para centrais de backup reduziram a margem de segurança. Em suma, sem mudanças, um choque extremo (climático ou técnico) poderia voltar a colapsar a rede.
Para evitar esse cenário, Portugal e Espanha apostam forte no armazenamento de energia. Baterias de lítio de grande escala, baterias de fluxo de ferro e centrais hidroeléctricas de bombagem funcionam como airbags do sistema: guardam excedentes de energia verde e fornecem electricidade instantaneamente quando a rede precisa. As baterias de fluxo de ferro, em particular, destacam-se pelo custo de armazenamento (LCOS) relativamente baixo, além de serem mais seguras (não inflamáveis), sustentáveis (usam ferro, água e sal) e duráveis (vida útil superior a 20 anos, sem degradação significativa).
Tanto Lisboa quanto Madrid canalizam centenas de milhões de euros para projectos de armazenamento e redes inteligentes. Portugal, por exemplo, prepara leilões para novas baterias e ampliou a capacidade de bombagem (como no complexo do Tâmega), enquanto a Espanha financia instalações de grande porte e incentiva tecnologias inovadoras.
O desafio agora é de execução rápida: implementar estas soluções antes que outra crise ocorra. É preciso também ajustar o mercado eléctrico para recompensar quem garante reserva e expandir interligações europeias para partilhar recursos. A oportunidade é tornar a Península Ibérica um modelo de transição energética segura – com uma rede resiliente, limpa e apoiada em armazenamento sustentável (como as baterias de fluxo de ferro) para um futuro sem apagões.
António Queirós, Sócio-Gerente da Goldbreak